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Agir em regime de colaboração e fortalecer a educação

07/10/2019 | Conviva Educação

“Não toleramos deixar nenhum município para traz. Se nossa região estiver forte, a educação vai ser forte”. 

“Estamos construindo nossa identidade e dando foco para a formação de gestores. Aprendemos muito no contato com outros municípios”. 

 “Cada Consórcio com câmara técnica de educação vive um contexto, um direcionamento e uma forma de governança. Não há um único formato correto para essa forma de parceria entre municípios”. 

 “Um dos desafios para a continuidade dos Arranjos de Desenvolvimento da Educação, os ADEs, são as trocas de gestão: a mudança de dirigentes é constante, então esses novos profissionais precisam ser apresentados ao trabalho e convencidos da importância do regime de colaboração”.

Essas foram frases ditas por Maria Nadir, Noeli, Nathan e Marcelo durante o IV Encontro Nacional da Rede de Colaboração Intermunicipal em Educação, realizado dias 26 e 27 de setembro em Curitiba. Eles são representantes de algumas das 15 iniciativas que fazem parte da Rede de Colaboração e estiveram presentes no evento: oito delas são organizadas em Arranjos de Desenvolvimento da Educação (ADEs) e sete são Consórcios com câmaras técnicas de educação. Os Dirigentes Municipais de Educação e Equipes Técnicas que fazem parte dessa Rede de Colaboração Intermunicipal em Educação agregam 297 municípios de oito estados (veja reportagens sobre as iniciativas do sudeste, nordeste e sul). No encontro, puderam trocar experiências, fortalecer o grupo e participar de formações.

Nos itens abaixo, saiba como esse trabalho está sendo organizado e de que forma a sua secretaria também pode colaborar – e sair ganhando – com a parceria entre municípios.

O que é regime de colaboração? 

O termo regime de colaboração é usado para o trabalho articulado, coordenado e institucionalizado entre entes federados (União, estados, Distrito Federal e municípios) para garantir o direito à educação básica. Com ele, as esferas de governo têm responsabilidade conjunta pelos estudantes daquele território e não apenas por redes ou sistemas educacionais específicos (leia mais na área de conteúdo sobre regime de colaboração do Conviva).

No regime de colaboração intermunicipal, há dois modelos de institucionalização: Arranjos de Desenvolvimento da Educação (ADEs) ou Câmara Técnica de Educação dentro de Consórcios. Nesta e nesta reportagens elaboradas em 2018 há mais informações sobre essas formas de organização (nas próximas semanas, acompanhe na área de notícias do Conviva os avanços e desafios dos 15 ADEs e Consórcios que fazem parte da Rede de Colaboração Intermunicipal em Educação).

 

O regime de colaboração está previsto na Lei? É apoiado pelo governo federal?

O regime de colaboração está indicado no artigo 211 da Constituição Federal, de 1988, e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996. Os Arranjos de Desenvolvimento da Educação (ADEs) são citados em Artigos da Resolução CNE/CEB 1, de 23 de janeiro de 2012, e os Consórcios na Lei de Consórcios, de 6 de abril de 2005 e no Decreto nº 6.017, de 17 de janeiro de 2007 (veja detalhes no item “Suporte e Legislação do Regime de Colaboração” na área de conteúdo sobre regime de colaboração do Conviva).

O assunto está presente ainda no artigo 7º do Plano Nacional de Educação (PNE) (Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014), que diz: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios atuarão em regime de colaboração, visando ao alcance das metas e à implementação das estratégias objeto deste Plano”. 

Alexsander Moreira, coordenador geral de apoio às redes da educação básica e infra-estrutura educacional do Ministério da Educação, que participou de todo o Encontro da Rede (foto acima), mostra de que forma o governo federal está priorizando o assunto: “Incluímos o regime de colaboração no planejamento estratégico do Ministério da Educação recém-elaborado. É o Projeto Trabalho em Rede, transversal e prioritário da Secretaria de Educação Básica, que vai acompanhar as discussões relacionadas ao Sistema Nacional de Educação”. Alexsander chama atenção para as parcerias que já existem hoje: “Há uma experiência de cooperação importante que está ocorrendo entre estados e municípios, que é a implementação da Base Nacional Comum Curricular, a BNCC. Também vejo o trabalho conjunto que municípios desenvolvem no processo licitatório e nas discussões sobre programas do governo federal, como no Plano de Ações Articuladas (PAR) e no PDDE Interativo. Esse tipo de apoio nasce de uma necessidade e de uma dificuldade, exige organização e mostra resultados. Quando passa a ser institucionalizado então, como em Consórcios ou Arranjos, a parceria fica ainda mais sólida.” 

 

Por que ainda é difícil fazer o regime de colaboração sair do papel?

Eliziane Gorniak (foto abaixo)Diretora do Instituto Positivo, promotor do IV Encontro Nacional da Rede de Colaboração Intermunicipal em Educação ao lado do Itaú Social, acredita que há alguns motivos para que o regime de colaboração ainda não seja tão disseminado. “O fato de não termos um Sistema Nacional de Educação com estratégias que viabilizem normas, diálogos, decisões ou financiamento, faz com que essa visão não seja difundida. Ainda existe a visão de que o princípio da autonomia e do federalismo é mais forte do que o da interdependência. Outra razão é o desconhecimento das pessoas em relação aos mecanismos de efetivação do regime de colaboração já estabelecidos em lei, como as ações entre municípios ou entre municípios e estados – como o que são Arranjos, Consórcios, Associação de municípios ou Regiões Metropolitanas. Também não há pesquisa científica realizada em escala, então o conhecimento específico não é gerado”, afirma. Ela reforça ser comum a atuação individualista dos municípios e a dificuldade de compreender e participar de mecanismos democráticos de participação. E, por fim, diz que as secretarias de educação são muito pequenas e não encontram tempo para se unir com outras. “As equipes muitas vezes acreditam que a curto prazo vão perder tempo, mas notamos que no médio e longo prazo certamente ganham com a colaboração.”

 

Como o regime de colaboração está sendo colocado em prática na Rede de Colaboração Intermunicipal em Educação? Cerca de 5% dos municípios brasileiros fazem parte da Rede!

“A missão da Rede de Colaboração Intermunicipal em Educação é articular, apoiar e coordenar ações para o desenvolvimento de territórios colaborativos e fortalecer a capacidade de atuação dos gestores, contribuindo com a melhoria da qualidade da educação”, disse Deise Buzato, Diretora Municipal de Educação de Manduri (SP), que faz parte do Consórcio Intermunicipal do Alto Vale do Paranapanema (AMVAPA) e representou os integrantes da Rede durante a abertura do evento (foto abaixo). “A iniciativa é uma força transformadora que impacta mais de 30 mil professores, 1,3 milhão de alunos e mais de 6,8 milhões de habitantes”, diz. 

Publicamos três reportagens sobre os consórcios e ADEs participantes da Rede, divididos conforme a região em que ocupam: Sudeste, Nordeste e Sul.

O Itaú Social – um dos 13 parceiros do Conviva Educação – é o principal apoiador e fomentador das ações da Rede de trocas de municípios desde 2013. Já na década de 1990 a instituição atuava no fortalecimento da gestão da educação, seja em formações, articulação com poder público e grupos de municípios. “Em 1998 nasce o Programa Melhoria da Educação no Município. Posteriormente, com apoio técnico da Oficina Municipal, nosso objetivo era formar gestores educacionais e equipes técnicas de secretarias. Depois de realizar formações com as redes e trabalhar em polos, vimos a oportunidade de pensar como os Arranjos de Desenvolvimento da Educação e Consórcios intermunicipais poderiam agir de forma regional e encontrar respostas para seus desafios”, diz Sonia Barbosa Dias, coordenadora de Implementação do Itaú Social. Ela conta que até 2018 a Rede era formado apenas por Consórcios. Porém, notando que o trabalho poderia ser ainda mais fortalecido, propuseram a união com Arranjos de Desenvolvimento da Educação em um mesmo grupo. “Agora nossa intenção é colaborar no fortalecimento da iniciativa, no ponto de vista da governança, objetivos e ações”, diz Sonia (com o microfone na foto abaixo, com a equipe responsável pelo Encontro da Rede). Também fazem o apoio institucional da Rede de Colaboração Intermunicipal em Educação o Movimento Colabora, o Instituto Natura e o Instituto Positivo. 

Os Consórcios com câmaras técnicas de educação que fazem parte da Rede são: 

- Conisul (Alagoas);

- CDS-LS e Ciapra (Bahia);

- Cogiva (Paraíba);

-Codivar Educação, Civap e Amvapa (São Paulo).

E os nomes dos Arranjos de Desenvolvimento da Educação (ADEs) seguem abaixo: 

- Chapada Diamantina (Bahia);

- Dos Guarás (Maranhão);

- GE5 (Piauí);

- Norte Gaúcho (Rio Grande do Sul);

- Granfpolis, Serra Catarinense e Cogemfri (Santa Catarina);

- Noroeste Paulista (São Paulo).

Em 2019, os Dirigentes Municipais de Educação e equipes técnicas da Rede passaram a participar de um ciclo formativo com o intuito de fortalecer as ações regionais das câmaras técnicas e ADEs, aprofundando os conhecimentos para o regime de colaboração intermunicipal. Thamara Strelec, Diretora Executiva da Tríade, parceira técnica do Itaú Social para o trabalho com a Rede, conta que a decisão pelos temas dos encontros foi realizada com base em um diagnóstico, seguida de uma análise das demandas do grupo. Parte das formações já foram realizadas: sobre dimensão cognitiva da colaboração (o que é e como fazer para colaborar), aspectos ligados à gestão e governança (quais meios de comunicação e controle, distribuição das responsabilidades e como deve ser o envolvimento com a comunidade escolar) e facilitação de grupos (como lidar com a complexidade de lidar com tantos atores envolvidos no regime de colaboração) (veja fotos dos profissionais responsáveis pelas formações no Encontro da Rede abaixo). 

Os próximos temas abordados com as 15 iniciativas participantes da Rede, até fevereiro de 2020, são: desenvolvimento de parcerias e captação de recursos, uso de indicadores educacionais para equidade e como realizar um plano regional. “Consideramos que essas oficinas possibilitarão aos gestores a criação de planos regionais para seus territórios. Conhecendo mais sobre recursos, divisão de responsabilidades, utilização de dados concretos, entre tantos outros assuntos, será possível um planejamento que norteie políticas públicas. É desafiador, mas muito importante, que esses planos sejam realizados de forma contínua e com acompanhamentos sistemático, para se notar o reflexo das ações em sala de aula”, diz Thamara.