“Já houve o esforço para homologar a Base Nacional Comum Curricular e elaborar os currículos, mas o desafio ainda está longe de terminar. A formação do educador é o que fará com que o currículo se concretize na sala de aula”, disse Katia Stocco Smole, diretora do Instituto Reúna. Durante o evento "Construção da Proposta Curricular no Território do Rio de Janeiro” realizado dia 4 de setembro, na Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ), o tema de sua palestra foi a importância da formação de professores para a implementação dos currículos (leia abaixo um resumo da fala).
Na mesma mesa de discussão, Maurício Holanda, consultor Legislativo da Câmara dos Deputados para a área de educação, ex-secretário de Educação do Ceará e do município de Sobral (CE), ressaltou a importância do regime de colaboração para a implementação do currículo (leia abaixo um resumo de sua palestra).
Organização da educação infantil e do ensino fundamental
As especificidades da educação infantil, dos anos iniciais e finais do ensino fundamental também foram destrinchados pelos participantes no evento. As representantes dos profissionais responsáveis pela elaboração do currículo fluminense falaram ao Conviva sobre o material para o ensino fundamental:
Dilcelina Vasconcelos, Coordenadora de Currículos da BNCC no Rio de Janeiro:
Heloísa Andrade, da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro:
Formação de professores e regime de colaboração na voz dos especialistas
Veja o resumo da fala de Katia Stocco Smole:
“Para a formação de professores, ter um plano, saber as mensagens-chave, ter premissas de qualidade e ser orientado por evidências é essencial.
Já percorremos um longo caminho de formações continuadas, mas nem sempre sabemos o efeito que esse trabalho tem. Muitas vezes elas são desconectadas de outras ações, como de avaliações externas, e depois os resultados não são alcançados a contento.
Quem define as prioridades e os focos dados a essa iniciativa é a rede! Mas é importante considerar algumas questões para organizar as formações: onde exatamente queremos chegar, com quem, como, em quanto tempo e com quais recursos. Ao chamar um parceiro para realizar formações, portanto, esse plano precisa ser explicitado. O processo pode durar um período longo e precisa ser constante, já que demandará recursos e será desdobrado em projetos pedagógicos e planejamento.
As inovações que a BNCC nos traz devem ser levadas em conta no momento de planejamento da formação do educador. São elas:
- Articulação entre as etapas, com o desenvolvimento da pessoa planejado como um projeto de futuro, considerando como o indivíduo entra na educação infantil e termina na educação básica;
- Nova organização da educação infantil, com competências gerais e desenvolvimento integral;
- Ideia de progressão das aprendizagens: na Base está muito claro o que deve ser ensinado ano a ano. Os conceitos, habilidades e procedimentos que são objeto de conhecimento aparecem ao longo de toda a escola, mas evoluem na exigência cognitiva que se coloca em cada etapa;
- Linhas metodológicas pautadas em métodos ativos de aprendizagem;
- Forma de avaliação da aprendizagem;
- Fatores de integração entre os componentes.
O foco das formações não deve ser pedir pros educadores lerem a base ou o currículo exaustivamente. A publicação “Formação Continuada de Professores: contribuições da literatura baseada em evidências”, elaborado pela Fundação Carlos Chagas, analisou a eficiência da formação continuada. Estão citados os seguintes caminhos: foco no conhecimento pedagógico, participação coletiva, duração prolongada, métodos ativos de aprendizagem e coerência.
Também é importante planejar o acompanhamento da formação, considerando quais os resultados esperados e como coletar esses dados para, se necessário, rever o planejamento inicial.”
Veja o resumo da fala de Maurício Holanda:
“Participei da reforma educacional que ocorreu no governo municipal de Sobral (CE) e da construção da política de colaboração entre o governo estadual do Ceará e os municípios cearenses.
Sobre o caso de Sobral: em 2000, o professor Edgar Linhares, especialista muito respeitado e que acreditava na importância de leitura como autonomia para o aprendizado, realizou uma avaliação com os estudantes de 8 anos e mostrou para o prefeito o resultado: 50% deles não sabia ler no final do ano. E ainda completou: na 4ª série também havia 20% da turma que não lia. O governante, que acreditava ter implementado todas as ações necessárias durante seu mandato, mudou o rumo das políticas para dar foco à alfabetização. Desde então são 19 anos de luta cotidiana, sabendo que em todos os dias há novas demandas! Entre os resultados da rede estão o abandono nulo nas turmas de 1º ao 9º ano, defasagem idade-série próxima a zero e IDEB de 9,1.
O que é importante: o município identificou um problema e se responsabilizou por resolvê-lo, construindo as próprias tecnologias, aprendendo com a prática a partir do compromisso que tinha assumido. A mudança começa quando encaramos o que é nosso.
Outra experiência que eu gostaria de compartilhar: em 2007, enquanto eu estava na secretaria de educação do estado do Ceará, criamos o PAIC, o Programa de Alfabetização na Idade Certa, para colaborar com os municípios. Embora os anos iniciais do ensino fundamental não fossem de responsabilidade direta do governo do estado, acreditamos ser importante o cuidado com toda a cadeia que envolve a aprendizagem, incluindo material para a criança, formação do professor, acompanhamento, avaliação e estímulos, inclusive com prêmios. E mais: achamos que se o prefeito também estivesse envolvido, o resultado poderia ser até mais efetivo. Por isso, criamos uma regra de distribuição de imposto em que o município recebe mais ou menos do ICMS conforme o resultado das escolas da rede. Também incluímos uma regra de avaliação para buscar equidade: ganha mais quem tira os estudantes dos piores níveis e os traz, pelo menos, para um nível mediano. Com o contexto mais propício, aqueles que já estavam com desempenho satisfatório continuaram aprendendo mais. A educação passou a ser realmente vista como prioridade.
Conseguimos com que os 184 municípios cearenses saíssem de um IDEB de 2,7 em 2007 para um IDEB 6! Sabemos que sozinhos não conseguimos caminhar tanto, mas dialogando, construindo e colaborando uns com os outros os resultados são melhores.”
Ainda mais discussões
Na semana passada, publicamos uma primeira reportagem sobre o evento, o que incluiu uma entrevista com Claudia Costin (diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, Ceipe, da Fundação Getulio Vargas, FGV-RJ), o depoimento de Lenine Lemos (presidente da Undime RJ e Dirigente Municipal de Educação de Queimados, RJ) e um histórico sobre a Base Nacional Comum Curricular com Alice Ribeiro (secretária executiva do Movimento pela Base Nacional Comum) (para ver a publicação, clique aqui).