Dia 24 de junho, o Conviva estreou uma Websérie chamada Boas Práticas da Gestão. Com vídeos ao vivo, a intenção é mostrar experiências de municípios de diversos estados do país que têm feito um trabalho de qualidade. Os convidados para a primeira transmissão foram os municípios de Crateús, no Ceará, e Vacaria, no Rio Grande do Sul. As representantes de Crateús foram: Luiza Aurélia, Dirigente Municipal de Educação, e Lindaléia Aires Evangelista, Coordenadora do Setor Pedagógico e Gerente Municipal do Programa MAISPAIC. De Vacaria, participaram Dilvane Agustini, Dirigente Municipal de Educação, e Nilva Michelon, supervisora EMEF Nabor Moura de Azevedo.
O vídeo pode ser acessado na íntegra: assim como as demais produções do Conviva, está disponível na Galeria de vídeos da plataforma.
Se preferir, assista diretamente aqui:
Abaixo, leia os relatos realizados pelas equipes:
Em Crateús, planejamento durante o fechamento das escolas e a retomada das aulas presenciais
Veja o registro de Luiza Aurélia, Dirigente Municipal de Educação, e Lindaléia Aires Evangelista, Coordenadora do Setor Pedagógico e Gerente Municipal do Programa MAISPAIC:
“O Ministério Público do Ceará expediu uma recomendação para a maioria dos municípios do estado realizarem um plano de contingência para o momento da suspensão de aulas. Sabemos que esse plano é usado para reduzir riscos, então poderia apoiar a gestão da educação.
Mas antes mesmo disso, assim que as aulas foram suspensas em Crateús, em 18 de março, a secretaria de educação começou a fazer um levantamento das áreas de gestão pedagógica, de contratos, de alimentação, de transporte e sobre o calendário escolar. Nossa intenção foi construir um documento orientador para lidar com aquele momento e com a retomada posterior das aulas.
O plano foi elaborado por um grupo de profissionais, levando em conta a constituição federal, a LDB, resoluções dos Conselhos Nacional e Estadual de Educação. As decisões foram tomadas com base nas necessidades apresentadas pela gestão pedagógica e pelas mudanças no calendário letivo, e o plano foi apresentado ao promotor do município.
Apresento a seguir os encaminhamentos da área pedagógica para o enfrentamento desse momento de aulas suspensas:
Para iniciar de fato o envio das atividades para os alunos realizarem em suas casas, fizemos uma ampla pesquisa com gestores, professores e pais para verificar a possibilidade de uso de internet e de equipamentos tecnológicos disponíveis. Os resultados apontaram que cerca de 60% dos alunos não teriam acesso a atividades enviadas por qualquer meio digital.
Em paralelo, desenhamos três cenários de calendário escolar (amparados pela Medida Provisória 934, que permite o não cumprimento dos 200 dias letivos, mas condiciona o cumprimento das 800 horas letivas). Não sabemos ainda quando poderemos retomar as aulas nas escolas, então colocamos como possíveis os meses de maio, junho e julho, e ainda sim, de forma gradativa. Depois disso ainda tivemos que construir outros três cenários, conforme a doença avançava e não havia condições de atendermos aos prazos iniciais.
Com base nas datas, verificamos como cumprir as horas letivas, somando períodos nos dias da semana, em aulas aos sábados e em feriados. Também previmos atividades a distância para os alunos realizarem aos finais de semana, e a secretaria de educação prepararia materiais impressos para as crianças levarem para casa, somando essas tarefas ao calendário letivo.
Com todo esse desenho, organizamos o trabalho dos profissionais e criamos um banco de horas de trabalho realizado, registrando tudo em um decreto e regulamentando em uma portaria da secretaria da educação.
Além disso, organizamos como será o reforço escolar, as avaliações e as atividades presenciais, e o currículo que será cumprido durante o tempo que tivemos. Utilizamos os mapas de foco do Instituto Reúna para eleger as prioridades para o ano, e aprovamos com o Conselho Municipal de Educação.
Temos 11 mil alunos e muita responsabilidade de chegar em todos eles enquanto as aulas presenciais não são retomadas. Por isso, pensamos muito sobre o formato das atividades que estão sendo realizadas neste momento. Temos também um núcleo de suporte técnico, com profissionais de informática que apoiam famílias e educadores. Utilizamos um programa da rádio local para chegar às famílias, fizemos uma formação com os professores para eles aprenderem sobre o uso das tecnologias, como do Google for Education. Os técnicos da secretaria elaboraram diversos materiais para serem enviados aos estudantes. Abriremos um edital para que os professores pudessem enviar suas videoaulas, para então os demais educadores poderiam utilizar o material. Além das aulas que estão sendo realizadas de forma remota, também criamos projetos temáticos para serem desenvolvidos (sobre prevenção contra dengue, leitura, matemática e xadrez, por exemplo). Acreditamos que esses formatos têm fortalecido também os vínculos familiares.
O retorno às aulas precisa estar impregnado de muito planejamento. Estamos organizando o transporte escolar, considerando a necessidade de acrescentar mais rotas dos ônibus para que os veículos não operem em sua capacidade máxima, por exemplo. O plano de retomada precisa incluir também o apoio da assistência social, da área da saúde e da sociedade em geral. As mudanças estão ocorrendo muito rapidamente e precisamos nos replanejar o tempo todo, sempre levando em conta as contribuições de todos, as normativas e o orçamento disponível da secretaria.
Acredito que com esse nosso plano procuramos nos prevenir, prever o que poderia acontecer e reagir aos fatos. Com isso, diminuímos a possibilidade de maiores riscos! Tendo um planejamento, conseguimos corrigir a rota, mas temos um ponto de partida. A evasão escolar, o acolhimento dos estudantes e a formação dos professores para o trabalho de ensino híbrido são ainda desafios que devemos encarar.”
Em Vacaria, organização para atividades não-presenciais durante a pandemia
Veja o registro de Dilvane Agustini, Dirigente Municipal de Educação, e Nilva Michelon, supervisora EMEF Nabor Moura de Azevedo:
“As aulas no município de Vacaria/RS foram suspensas em 18 de março por causa da pandemia do novo Coronavírus. A secretaria de educação orientou as 17 escolas da rede com sugestões de como deveria ser as aulas não-presenciais, priorizando a revisão e reforço para os assuntos já abordados.
A partir disso, a escola teve autonomia para se planejar conforme o contexto e as possibilidades da comunidade escolar. Naquele momento, a equipe diretiva da EMEF Nabor Moura de Azevedo, que atende turmas da pré-escola (crianças de 5 anos) até o 9º ano, passou a entrar em contato com as famílias dos estudantes matriculados via Whatsapp ou telefone.
A princípio, a intenção era manter o vínculo com as crianças e a escola, sendo que no dia 6 de abril as crianças passariam a receber atividades pelos grupos de Whatsapp para serem realizadas em casa. Para grande parte dos estudantes essa estratégia deu certo, mas para aqueles com pouca internet ou baixa capacidade no celular não ficassem prejudicados, pensamos em outro formato para ser adotado a partir de 4 de junho.
Os professores realizam planejamento quinzenal e enviam para a escola um conjunto de atividades (polígrafo) que envolvem leitura, pesquisa, realização de experiências e atividades variadas, que são impressas e disponibilizadas aos pais em dias e horários alternados.
Funciona assim: cada polígrafo fica armazenado em uma sacola para facilitar a higienização e o armazenamento, e as turmas obedecem determinados horários para ir até a escola buscar o material, evitando aglomerações. Depois de 15 dias, os estudantes ou pais retornam à escola para pegar novo material e devolver as atividades anteriores resolvidas, que serão revisadas pelos professores e posteriormente arquivados na escola. Também usamos o Facebook da escola (https://www.facebook.com/nabor.m.a) para publicar as atividades e manter o contato. Em algumas localidades, a própria secretaria de educação ou os educadores entregam os materiais nas casas dos estudantes.
A equipe da escola está se adaptando e melhorando os processos. Os professores elaboram as atividades e enviam para a supervisora realizar seus comentários e ajustes antes do material ser impresso.
Sabemos que não conseguimos atingir 100% dos estudantes, mas cerca de 70% estão participando ativamente. Muitas das famílias trabalham na agricultura, normalmente na colheita da maçã ou do alho, e as crianças ficam sozinhas em casa. Esse modelo de atividades impressas facilita o manuseio mesmo daquelas que têm menos autonomia. Entre os conteúdos abordados, priorizamos aqueles de língua portuguesa, matemática, produção de texto e, para a Educação Infantil, os cinco campos de experiências envolvendo interações e brincadeiras.
O cenário é incerto, então está sendo um aprendizado a cada dia. Sabemos das dificuldades que existem, porém com a pandemia percebemos o quanto estamos despreparados para o uso de ferramentas tecnológicas para o fazer pedagógico. Outro ponto importante é priorizar a essência do ser humano. A educação está vivendo um novo momento e precisamos nos adaptar o tempo todo!
Quando retomarmos as aulas nas escolas, sabemos que precisaremos retomar os conteúdos e dar atenção bastante especial para aqueles que não tiveram acesso às atividades durante o período da pandemia, no entanto é preciso primeiramente acolher tanto os estudantes como os pais e professores, valorizando a aprendizagem.”