Deputados e entidades ligadas à Educação afirmaram nesta quinta-feira (21), por meio de videoconferência, que o direito do aluno de aprender deve ser garantido mesmo diante de mudanças no calendário de ensino de escolas e de universidades por conta da pandemia de Covid-19.
"Vamos ter pelo menos 4 meses de prejuízo no calendário escolar e não vamos poder medir a reposição das aulas simplesmente pela quantidade de dias ou de horas-aula. Vamos ter que superar algumas práticas, porque o momento exige soluções diferenciadas", observou o deputado Professor Israel Batista (PV-DF), durante a reunião técnica promovida pela relatora da Medida Provisória (MP) 934/20, deputada Luísa Canziani (PTB-PR).
Editada para frear o avanço do novo coronavírus, a MP dispensa instituições do ensino básico e superior de cumprirem, neste ano, a meta de 200 dias letivos (com aula presencial). O texto mantém a carga horária mínima de 800 horas no ano, mas autoriza o aluno a cumprir essas horas com atividades não presenciais.
"Sei que será necessário flexibilizar, mas é importante garantir o direito à aprendizagem", ressaltou a deputada Professora Rosa Neide (PT-MT). Já a deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO) avalia que a medida provisória deve definir parâmetros para o País, sem a necessidade de "casamento" entre os anos letivo e civil. "Não temos preocupação com dias e horas, mas entendo que isso deva ser um norte", disse.
Reposição de aulas
Presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Luiz Roberto Curi citou parecer editado pelo CNE no dia 28 de abril que propõe a reorganização do calendário escolar. O parecer sugere a reposição das aulas de forma presencial ao fim da pandemia e prevê a validação de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual. O documento ainda aguarda a homologação do Ministério da Educação.
"A MP pode ajudar nisso, garantindo que as horas de referência sejam as horas necessárias para cumprir os objetivos de aprendizagem. 800 horas é um parâmetro para o centro da discussão, que deve ter como foco a oferta e o aproveitamento da aprendizagem", disse Curi. Segundo ele, o CNE trabalha agora em um parecer específico sobre o processo de retomada das aulas.
O Parecer 5/20, no entanto, chama atenção para algumas dificuldades operacionais: datas que não prejudiquem o calendário de 2021; espaço físico nas escolas; impacto financeiro dos ajustes operacionais; e dificuldades trabalhistas envolvendo contratos de professores, férias, entre outros.
Convívio com a doença
Vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Fred Amâncio elogiou o parecer técnico do CNE e observou que, até a descoberta de uma vacina ou de um medicamento eficaz contra a Covid-19, o sistema de educação terá de aprender a conviver com a doença.
"O número de dias e a carga horária são critérios, mas não podemos ficar amarrados a isso. Se entrarmos muito em fevereiro e em março [de 2021], não conseguiremos cumprir o mínimo de 200 dias em 2021. Vamos ter sim que entrar em 2021, mas não muito, senão não cumpriremos o calendário do próximo ano", observou. Amâncio ainda sugeriu uma redução de até 25% da carga horária mínima exigida, que é de 800 horas.
O presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Luiz Miguel Garcia, reforçou que o principal método para recuperação de conteúdos deve ser a forma presencial de ensino, uma vez que nem todos os alunos têm acesso facilitado a meios não presenciais.
Na educação básica – que reúne os ensinos infantil, fundamental e médio –, segundo ele, é possível reorganizar a base curricular para redistribuir os assuntos por mais um ou dois anos. "É preciso pensar também o planejamento de aulas para 2021 e 2022 para recompor todas as aulas", disse. Ele sugere uma discussão mais ampla sobre como deverão ser cumpridas as 800 horas.
Evasão escolar
A presidente-executiva da organização sem fins lucrativos Todos pela Educação, Priscila Cruz, concorda que só é possível reverter as perdas com o retorno das aulas presenciais, mas ela avalia que será preciso trabalhar em ciclos, com o calendário de um ano sendo pensado juntamente com os seguintes. "Esses são os três pilares que devemos priorizar: garantir a aprendizagem, reduzir a desigualdade educacional e evitar a evasão escolar", disse.
Relatora da MP 934/20, a deputada Luíza Canziani adiantou que pretende apresentar um texto alinhado com "quem faz a Educação no País" e com regras restritas ao período da pandemia. "A gestão do calendário escolar será feita pelas instituições, pelos sistemas, pelas redes de ensino. Nosso objetivo aqui é trazer um panorama geral, uma diretriz, em conjunto com o parecer do CNE, para que a gente alcance os objetivos de aprendizagem dos alunos", disse.
Um levantamento feito pelo site G1 durante a pandemia mostra que muitos alunos da rede pública estão vendo 2020 como um ano perdido em suas trajetórias escolares. Em 7 estados e no Distrito Federal, a atividade remota não vai contar para o ano letivo. Já os professores relatam o drama de não terem a formação e a estrutura necessárias para oferecer o conteúdo remoto.
Segundo o site, a suspensão de aulas não encontrou uma resposta coordenada e cada estado adotou uma maneira de repassar o conteúdo, por meio de plataformas virtuais, sites, TV aberta e até WhatsApp: 15 estados decretaram recesso ou férias para ganhar tempo e encontrar alternativas; 11 estados e o Distrito Federal suspenderam as aulas; e 16 estados planejam considerar atividades remotas como carga horária do ano letivo.
Fonte: Agência Câmara de Notícias/ Foto: Gustavo Sales, Câmara dos Deputados
Título original: Deputados e entidades defendem novo calendário de ensino com foco na aprendizagem