O desenvolvimento e a educação integral de crianças e adolescentes é efetivada quando a escola é um espaço de promoção e valorização da cultura dos povos negros. Mas com uma sociedade marcada pelo racismo, por onde começar?
Entre as feridas ainda abertas pela escravidão no Brasil, o racismo é a mais gritante. Como o problema estrutural que é, se faz presente em toda a organização social e política do país. Desde o momento em que nascem, crianças e jovens negros têm seus direitos e dignidade atravessados por violência física, econômica, simbólica entre outras. Na educação, não é diferente. Por isso, é impossível debater o racismo do nosso país sem debater, também, o papel da escola frente à sociedade que temos e a que almejamos construir.
Trata-se de uma realidade evidenciada no cotidiano e nos números: de acordo com o estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, do IBGE, a taxa de analfabetismo entre a população negra é de 9,1%, cerca de cinco pontos percentuais superior à da população branca, de 3,9%. Os números são de 2018. Já a PNAD, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, também do IBGE, mostra que o percentual de jovens negros fora da escola chega a 19%. Entre os jovens brancos, o número é de 12,5%.
As dificuldades impostas pela pandemia somente tornaram o quadro mais crítico. Ainda de acordo com o IBGE em outro levantamento, feito em 2020, em setembro do ano passado 6,4 milhões de estudantes (13,9% do total) não tiveram acesso às atividades escolares. Ainda nessa mesma pesquisa, a PNAD-Covid mostra que estudantes negros e indígenas sem atividade escolar representam ao triplo de estudantes sem escola: 4,3 milhões de crianças e adolescentes negros e indígenas da rede pública e 1,5 milhão de pessoas brancas destes segmentos.
Esses indicadores escancaram o abismo entre as oportunidades educativas e a população negra como também a ausência de políticas educacionais das redes escolares para a reparação desta situação por meio da inclusão, promoção e valorização da cultura, conhecimento e saberes dos povos negros. Por isso, desnaturalizar a exclusão escolar de crianças e adolescentes negros do sistema de ensino é um dos passos para o início de uma transformação da escola e da sua afirmação como espaço antirracista.
“A escola tem um papel central nas transformações sociais. Para tanto é preciso que esta transformação leve em consideração as pessoas, os sujeitos dos processos educativos. Crianças e adolescentes negros devem ter suas dignidades reconhecidas em propostas educativas que potencialize seu pleno desenvolvimento, valorize suas culturas e que combata todo tipo de discriminação. Essa tarefa não é de um professor apenas, tampouco de uma disciplina. É de toda a comunidade escolar”, comenta Raquel Franzim, diretora de Educação e Cultura da Infância do Instituto Alana.
Plano de ação
Com a ideia de reunir alguns dos principais pesquisadores, educadores e ativistas voltados à educação, o Instituto Alana organiza uma nova edição do projeto No Chão da Escola, que desta vez acontece de 27 a 29 de julho.
Entre os convidados estão alguns dos principais pensadores sobre educação para as relações étnico-raciais, entre elas Nilma Lino Gomes, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, Iara Viana, entre outros.
“É necessário mudar a maneira como o país pensa sua educação. Os povos africanos são centrais na formação do Brasil, contudo seus saberes, memórias e costumes seguem sendo silenciados no currículo escolar. É preciso que a escola promova a perspectiva das resistências, inventividades e conhecimentos afirmando o protagonismo que esses povos sempre tiveram e merecem. A representação positiva de negros e negras no curriculo é porta de entrada para a reparação de séculos de racismo. Não é o caso de acreditar que a sociedade vai mudar imediatamente, mas de interromper o ciclo de violência que atravessa a vida das crianças e adolescentes pretos, a começar na escola”, reforça Franzim.
É importante que esse compromisso seja coletivo dentro da instituição de ensino, ou seja, o compromisso de uma escola preparada para discutir relações raciais não pode ser colocado somente como responsabilidade de professores negros.
Por que o evento?
Criado em outubro de 2020, o projeto No Chão da Escola é uma iniciativa do Instituto Alana voltada à formação de profissionais da educação que busca inspirar e subsidiar a comunidade escolar frente aos desafios na garantia do direito à educação para todos.
A cada edição são propostos temas que dialogam com o contexto escolar, considerando a emergência de se reverter os impactos da pandemia na educação, o acirramento das desigualdades e o enfraquecimento, nos últimos anos, da democracia e do Estado de Direito no Brasil.
Nesta terceira edição do evento, a educação antirracista será problematizada a partir de seis eixos temáticos: Escola, antirracismo e democracia; O corpo negro na escola - racismo e seus impactos na subjetividade; Educação para relações étnico-raciais; Branquitude e racismo: o papel das escolas; A representatividade e o protagonismo negro no currículo; e Recriar a escola sob perspectivas afro-brasileiras.
Serviço
Data: 27, 28 e 29 de julho de 2021
Horário - das 18h às 21h
Evento gratuito com certificado aos participantes
Para mais informações e material de edições anteriores, acesse nochaodaescola.alana.org.br
Sobre o Instituto Alana
O Instituto Alana é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que aposta em programas que buscam a garantia de condições para a vivência plena da infância. Criado em 1994, é mantido pelos rendimentos de um fundo patrimonial desde 2013. Tem como missão “honrar a criança”.
Fonte: Instituto Alana
Título original: Instituto Alana convida educadores para debater educação antirracista no Brasil
https://bit.ly/2Tml8Go