Participantes de audiência pública na Câmara dos Deputados defenderam que se promova a educação midiática nas escolas brasileiras para se formar cidadãos críticos. O debate foi promovido pela Comissão de Educação nesta terça-feira (6).
O professor Claudemir Viana, do curso de licenciatura em Educomunicação da Universidade de São Paulo (USP), foi um dos que defendeu que a educação para as mídias esteja presente no processo educativo. Na visão dele, ela deve ser promovida não apenas em uma disciplina, mas pode ser feita por todos os professores, a partir de projetos e oficinas, por exemplo.
A educação para as mídias, segundo Viana, deve tornar o cidadão capaz de ler conteúdos midiáticos de forma crítica e de atuar como sujeito no processo de comunicação, a partir das oportunidades que as tecnologias oferecem. “Ele deve sair do processo empoderado, sabendo se expressar de forma mais clara e objetiva, tornando-se um cidadão mais ativo e atuante, de maneira consciente sobre as responsabilidades do ato comunicativo”, disse.
De acordo com Viana, se o cidadão não passar por um processo de educação midiática, ele tende a reproduzir conteúdos sem entender o modo de produção das informações. “Não se trata apenas de detectar mentiras e verdades mas detectar que as notícias são editadas, elas não são neutras”, explicou. “Mesmo sendo verdadeira, a informação sofre um processo de edição que implica a escolha de determinas perspectivas desse fato. É se dar conta de que vivemos em um mundo editado”, completou.
Currículo comum
Alice Carraturi, representante do Ministério da Educação, afirmou que a educação midiática foi incluída na Base Nacional Comum Curricular entre as competências básicas que o aluno deve ter. A base prevê, por exemplo, que o aluno de ensino fundamental saiba utilizar e criar tecnologias de informação e comunicação. Entre as habilidades de língua portuguesa, o aluno deve, por exemplo, ser capaz de comparar informações sobre um mesmo fato veiculadas em diferentes mídias e concluir qual é a mais confiável e por quê.
O BNCC orienta a formulação dos currículos das escolas pelas redes estaduais. Neste momento, os novos currículos para o ensino fundamental estão em fase de formulação pelos estados.
A deputada que solicitou a audiência, Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO), ressaltou que os professores precisam de formação para promover a educação midiática. “É um tema que a educação brasileira precisa enfrentar e que ainda tem pouco espaço”, disse. A educação midiática já é política pública adotada em alguns países da Europa e em alguns estados nos Estados Unidos.
Celular e internet
Karla Skeff, oficial de projetos de Comunicação e Informação da Unesco, disse que a educação midiática pode promover conhecimentos, habilidades e atitudes que ajudarão o cidadão a filtrar o volume imenso de informação que circula na sociedade. Além disso, pode ajudá-lo a disseminar informações de maneira mais responsável e ética.
“O uso massivo do celular e internet é um risco e uma oportunidade, mas existem mais oportunidades do que riscos”, opinou. “Um cidadão empoderado e crítico tem mais possibilidade de exercer controle social, e isso favorece a liberdade de expressão”, disse.
Essa também é a visão da presidente do Instituto Palavra Aberta, Patrícia Blanco, que chamou a atenção para o impacto das informações disseminadas por meio da internet na decisão de eleitores nas últimas eleições e para a importância da educação midiática para combater as notícias falsas. “Educação midiática é liberdade”, avaliou. “É dar subsídios, ferramentas, para que crianças, adolescentes e adultos possamos exercer melhor a cidadania e a liberdade de expressão”, completou.
Título original: Debatedores defendem educação midiática nas escolas para formar cidadãos críticos